Imagens versus palavras: que concluir?

Aparentemente, as facilidades tecnológicas tenderiam, em publicidade, a ir matando as palavras em favor da imagem.

Figura 14

Mas não há boa comunicação publicitária sem palavras, sem um texto, ainda que mínimo. E não nos podemos deixar enganar, associando a importância do texto à sua extensão. Em publicidade, texto curto não implica pouco valor ou menor poder na comunicação. O poder das palavras começa desde os fundamentos da própria marca, no poder e valor económico da palavra que a representa. E este valor pode transformar-se também em valor linguístico a nível de léxico básico, o que indicia como as marcas são palavras de extraordinária força emotiva no nosso léxico mental, ao ponto de poderem construir conceitos que linguisticamente servirão para percecionar novas realidades (uma gilete, um sumol, um quispo, um jipe, etc...).

Figura 15

A estes aspetos, há a juntar o poder descodificador que as palavras têm nas estratégias publicitárias. Este é o poder da multimodalidade, de poderem construir jogos com as imagens. Frequentemente, jogos apelativos, humorísticos. Porque sem as palavras, as imagens são apenas imagens. Os publicitários não querem uma imagem a valer por mil palavras. Preferem antes que cada imagem possa apontar para uma palavra especial: “comprem”. Por isso, a mensagem da imagem tem de ser orientada e são também as palavras que o fazem. Para tal, têm que, implícita ou explicitamente, argumentar. Podem servir-se dos valores sociais, como a “verdadeira amizade”, a “defesa da autoestima” ou o “acreditar num mundo melhor” (Figuras 14, 15 e 16). Não é esta a sua finalidade, mas pode ser uma estratégia útil.

Figura 16

É atribuída a Edgar A. Shoaff uma daquelas afirmações que tão frequentemente ligam a publicidade à verdade ou falsidade que as palavras podem ter: que a publicidade é a arte de construir completas mentiras a partir de meias verdades. É, com certeza, um exagero afirmar isto. Se a publicidade fosse tão descaradamente mentirosa, não teria o sucesso que tem de ter. É a argumentação sedutora o principal objetivo em publicidade e as palavras e o discurso são parte fundamental nesse processo de sedução. Por isso, talvez seja preferível dizer que o poder principal das palavras, na publicidade, reside no facto de esta ter de ser a arte de nos seduzir com a meia mentira que sempre sobra de uma meia verdade...
José Teixeira in http://repositorium.sdum.uminho.pt