Pensamentos em torno de uma corda - por Jessica Ferreira (11º ano)


Decidi dedicar-me à observação da sombra de uma corda, num dia que se podia dizer “ensolarado”. A primeira impressão foi singela e até algo simplista. A sombra da corda no chão parecia uma recta algo suspensa no ar, quieta, sem se movimentar. Concluí que o meu estudo poderia não ser suficientemente racional. Contudo, decidi prosseguir.
A claridade é considerada o porto seguro do Homem. Como seres pensantes, honoramos a nossa inteligência e glorificamos as nossas descobertas. O nosso “destino” é desvendar as soluções de paradigmas e problemas que nos assaltam o génio. Encontramos nessas mesmas resoluções o escudo protector no campo de batalha que é a vida. Tudo o que pertença à obscuridade e ao desconhecido é factor repugnante. A nossa sombra repugna-nos. Então qual será a necessidade de a termos? Há pelo menos um facto irrefutável: é única coisa que nos pertence, desde o dia em que respiramos o primeiro ar até ao dia em que suspiramos pela última vez. Além disso, admitamos, é original, pois não existe sombra alguma que possa ser igual! É nossa, é própria e, acima de tudo, pertence-nos.
A sombra é o retrato da nossa evolução. Acompanha o nosso crescimento, sempre ao nosso lado. Constitui a única certeza da nossa existência: é que, sem sombra, ninguém fica! E, talvez por ser a única certeza é que fazemos tanto esforço para a esquecermos. Algo certo é algo acabado. Não se pode questionar, pesquisar, estudar, muito menos descobrir. Não há qualquer tipo de informação que possa ser acrescentada. Ou então somos nós, seres humanos, que desejamos que tudo seja certo para não desenvolvermos qualquer esforço a mais. O cansaço apareceu e perdurou nas nossas mentes. Senão, qual seria o objectivo de alcançar certezas senão pelo simples facto de não querermos esforçar-nos ainda mais para atingir o conhecimento? A desculpa mais recorrente surge logo a seguir. Querermos saber onde estão as nossas origens, para assim construirmos um passado longínquo, sempre com a ideia de constituir uma base para o nosso futuro próximo. As buscas têm sido extensas, os progressos têm sido reveladores, as descobertas são valorizadas, mas o grau de certeza máxima continua por atingir. Assumimo-nos portanto ignorantes.
Admitimos como início do universo uma teoria um tanto explosiva. Cientistas estudiosos afirmam afincadamente que o início está no Big Bang. Todos nós o conhecemos, no mínimo, e talvez até explicar sucintamente esse mesmo acontecimento. Mas já alguém se preocupou em estudar o porquê do buraco negro? A ausência da luz, do claro, do visível, assusta-nos demasiado para nos ocuparmos a estudar as “sombras” do Universo. Por conseguinte, é explicável a incapacidade mórbida do conhecimento pessoal completo.
Dizem que os humanos são os seres mais perfeitos que alguma vez foram criados. Detentores de capacidades intelectuais e motoras que mais nenhum animal possui. Tantas virtudes e capacidades fizeram de nós pessoas cegas e arrogantes. Sermos tão bons não nos basta. A luta é para sermos melhores que todos os outros! No entanto, para obtermos a perfeição máxima colectiva, é necessário atingir o melhor possível de nós próprios. Essa questão é incontornável, porque as características dos outros são-nos intrínsecas na mente. As nossas são abandonadas e esquecidas na nossa sombra. É inimaginável pensar, quanto mais admitir, que as nossas raízes possam estar em algo tão decrépito como uma sombra provocada pela luz. O nosso falso altruísmo impede-nos de a alcançarmos, o que faz de nós realmente irracionais, pois delineamos um objectivo, cuja meta nos recusamos a passar. Sobrevivemos assim, eternamente inconformados, mas detentores da suprema Razão que, para nós, não passa disso, pois somos demasiadamente singelos para a determos como acto.
Porque não pensarmos então como a corda? Admitirmos ser um aglomerado de finos filamentos que unidos formam algo consistente e verdadeiro. Contudo, falta-nos a explicação da sombra. Esse, é um problema sem solução. A sombra é o que realmente somos face a atitudes extremas. A nossa irracionalidade é a nossa origem, e nós, somos elevadamente racionais para atingirmos a única solução existente.
Em conclusão, “nunca podemos conhecer todos os elementos de uma questão”, o que faz de nós, a “descoberta” mais inalcançável do mundo.

Jessica Ferreira